15ª Conferência Mundial de Engenharia Sísmica
Para quando o próximo sismo em Lisboa?
Não é possível prever uma data, mas os especialistas não têm dúvidas: Lisboa pode a qualquer momento ser atingida por um sismo. Resta saber se a cidade está preparada e quais seriam as consequências.
Imagem: MIGUEL A.LOPES/ LUSA
Durante esta semana, mais de 3 mil especialistas e investigadores de 80 países estiveram reunidos em Lisboa na 15ª Conferência Mundial de Engenharia Sísmica. Um evento de peso na área que acontece de quatro em quatro anos, sempre numa cidade diferente.
Não foi por acaso que esta edição decorreu em Lisboa. Portugal tem-se destacado na investigação científica sobre engenharia sísmica. “Somos bem considerados nesta área” mas “o nosso passado histórico” também contou no processo de escolha, explica ao SAPO Notícias Carlos Sousa Oliveira, presidente da comissão organizadora da conferência.
O terramoto de 1755 continua a ser motivo de “curiosidade” para muitas pessoas, além de ter sido “muito estudado”, diz o professor no Instituto Superior Técnico (IST). Mas se hoje em dia o país produz muita investigação na área da engenharia sísmica, fora das faculdades a realidade é outra: Lisboa não está preparada para as consequências de um sismo.
Lições históricas
“Não estamos livres de sermos atingidos, mas não sabemos quando”, refere Carlos Sousa Oliveira, munindo-se de exemplos mais recentes para mostrar que um sismo semelhante ao de 1755 (8.5 a 9 na escala de Richter) pode voltar a acontecer.
“No Japão já tinha acontecido um terramoto e tsunami como o de 2011 há 500 anos atrás”. Também o Haiti, que sofreu um sismo de magnitude 7 em 2010, “tinha sido atingido por dois sismos semelhantes em 1780”, lembra Carlos Sousa Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica.
“Em termos gerais, sabemos mais ou menos onde pode acontecer, há estudos que mostram alguns cenários possíveis. Não há como prever quando, mas é possível trabalhar para reduzir as incertezas”, realça Carlos Sousa Oliveira.
Um sismo como o de 1755 podia provocar hoje 17 a 27 mil mortos
Mário Lopes, professor do IST, é uma das vozes críticas à falta de atenção que a prevenção sísmica tem recebido da classe política. “Há uma dúzia de anos que estamos a falar com a classe política para tentar mudar alguma coisa mas ninguém se preocupa com a resistência sísmica nos edifícios”, lamenta Mário Lopes.
Se Lisboa fosse atingida por um sismo igual ao de 1755 poderiam resultar daí 17 a 27 mil mortes, de acordo com um estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Mas Mário Lopes assegura: “a situação fica negra com um sismo mais fraco”. Carlos Sousa Oliveira refere que "um sismo de 6.5 já ia trazer grandes problemas".
“As nossas infraestruturas têm um potencial de vulnerabilidade grande a um sismo”, refere. Edifícios públicos como hospitais, escolas ou repartições públicas poderiam não aguentar. Por exemplo, o maior hospital de Lisboa, o Santa Maria, “foi construído antes de haver regulamentação técnica”. “Os edifícios construídos antes de 1959 não foram projetados para receber sismos”, salienta o professor do IST.
Já os edifícios da Baixa pombalina, construídos depois do sismo de 1755 com a intenção de serem mais resistentes, ficariam provavelmente muito danificados. “O problema são as alterações que se fazem nestes edifícios”, refere Mário Lopes.
Colocar a prevenção sísmica na agenda política
Mário Lopes lembra que em 2010 foi aprovada por unanimidade na Assembleia da República uma resolução onde foi recomendada ao Governo a “adoção de medidas para reduzir os riscos sísmicos”. “Mas não há nenhum governo que a aplique”, diz.
O professor reconhece que “neste momento de crise não se pode fazer grande coisa, mas a reabilitação em larga escala devia estar a ser preparada”.
Já Carlos Sousa Oliveira considera que não se tem feito muito no país para reduzir riscos porque não tem havido sismos. Espanha e Itália, por sua vez, estão a ser atingidas por sismos com mais frequência e por isso há mais esforços para reabilitar edifícios.
“Itália já tem um programa a funcionar em pleno para edifícios públicos, escolas, hospitais”, exemplifica o presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica. Em Portugal, “os governos olham para o problema de uma maneira displicente”, conclui.
Não foi por acaso que esta edição decorreu em Lisboa. Portugal tem-se destacado na investigação científica sobre engenharia sísmica. “Somos bem considerados nesta área” mas “o nosso passado histórico” também contou no processo de escolha, explica ao SAPO Notícias Carlos Sousa Oliveira, presidente da comissão organizadora da conferência.
O terramoto de 1755 continua a ser motivo de “curiosidade” para muitas pessoas, além de ter sido “muito estudado”, diz o professor no Instituto Superior Técnico (IST). Mas se hoje em dia o país produz muita investigação na área da engenharia sísmica, fora das faculdades a realidade é outra: Lisboa não está preparada para as consequências de um sismo.
Lições históricas
“Não estamos livres de sermos atingidos, mas não sabemos quando”, refere Carlos Sousa Oliveira, munindo-se de exemplos mais recentes para mostrar que um sismo semelhante ao de 1755 (8.5 a 9 na escala de Richter) pode voltar a acontecer.
“No Japão já tinha acontecido um terramoto e tsunami como o de 2011 há 500 anos atrás”. Também o Haiti, que sofreu um sismo de magnitude 7 em 2010, “tinha sido atingido por dois sismos semelhantes em 1780”, lembra Carlos Sousa Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica.
“Em termos gerais, sabemos mais ou menos onde pode acontecer, há estudos que mostram alguns cenários possíveis. Não há como prever quando, mas é possível trabalhar para reduzir as incertezas”, realça Carlos Sousa Oliveira.
Um sismo como o de 1755 podia provocar hoje 17 a 27 mil mortos
Mário Lopes, professor do IST, é uma das vozes críticas à falta de atenção que a prevenção sísmica tem recebido da classe política. “Há uma dúzia de anos que estamos a falar com a classe política para tentar mudar alguma coisa mas ninguém se preocupa com a resistência sísmica nos edifícios”, lamenta Mário Lopes.
Fórum online: O professor Mário Lopes esteve nesta sexta-feira no SAPO a responder questões dos utilizadores sobre este tema. Reveja o fórum.Para este especialista, a falta de legislação na área da reabilitação urbana e a falta de fiscalização nas construções são os principais problemas. “Não há uma política sistemática e organizada para reduzir o risco”, sentencia.
Se Lisboa fosse atingida por um sismo igual ao de 1755 poderiam resultar daí 17 a 27 mil mortes, de acordo com um estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Mas Mário Lopes assegura: “a situação fica negra com um sismo mais fraco”. Carlos Sousa Oliveira refere que "um sismo de 6.5 já ia trazer grandes problemas".
“As nossas infraestruturas têm um potencial de vulnerabilidade grande a um sismo”, refere. Edifícios públicos como hospitais, escolas ou repartições públicas poderiam não aguentar. Por exemplo, o maior hospital de Lisboa, o Santa Maria, “foi construído antes de haver regulamentação técnica”. “Os edifícios construídos antes de 1959 não foram projetados para receber sismos”, salienta o professor do IST.
Já os edifícios da Baixa pombalina, construídos depois do sismo de 1755 com a intenção de serem mais resistentes, ficariam provavelmente muito danificados. “O problema são as alterações que se fazem nestes edifícios”, refere Mário Lopes.
Colocar a prevenção sísmica na agenda política
Mário Lopes lembra que em 2010 foi aprovada por unanimidade na Assembleia da República uma resolução onde foi recomendada ao Governo a “adoção de medidas para reduzir os riscos sísmicos”. “Mas não há nenhum governo que a aplique”, diz.
O professor reconhece que “neste momento de crise não se pode fazer grande coisa, mas a reabilitação em larga escala devia estar a ser preparada”.
Já Carlos Sousa Oliveira considera que não se tem feito muito no país para reduzir riscos porque não tem havido sismos. Espanha e Itália, por sua vez, estão a ser atingidas por sismos com mais frequência e por isso há mais esforços para reabilitar edifícios.
“Itália já tem um programa a funcionar em pleno para edifícios públicos, escolas, hospitais”, exemplifica o presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica. Em Portugal, “os governos olham para o problema de uma maneira displicente”, conclui.
Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
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