O artigo que vos vou dar a conhecer foi publicado no Jornal de Leiria em 12 de Junho de 2008.
O Jornal de Leiria decidiu transformar esta carta ao director em artigo de opinião.
Os Alcobacenses têm o direito de ter conhecimento desta carta e o papel dos blogs é, no meu modesto entender, o de dar a conhecer publicamente o que, intencionalmente ou não, é calado na comunicação social regional.
Exmo senhor:
Director do Jornal de Leiria
Escrevo-lhe estas linhas referindo-me a uma notícia do vosso Jornal de 5 de Junho, p.9 assinada por Ana Ferraz Pereira: «Autor de blog irrita presidente da Câmara de Alcobaça». O blog em questão é «Alcobaça Ecos e Comentários» e o autor é o Prof. Doutor António Delgado da Univ. da Beira Interior.
Diz a notícia que o presidente da Câmara de Alcobaça, dr Gonçalves Sapinho, na reunião em que a recém-eleita Comissão Concelhia do Partido Socialista (de que faz parte o Profesor) lhe foi apresentar cumprimentos e propor «uma postura de elevação e seriedade», referiu: «O Senhor [Professor António Delgado] não tem nível para ter respostas da minha parte. Nunca lhe responderei. Não leio o que escreve porque quero manter a minha sanidade mental acima da sua. O senhor está abaixo de um porteiro». Outras fontes, relatando o mesmo facto, escreveram que o presidente o tratou de «energúmeno». Já noutra ocasião, o senhor dr. Gonçalves Sapinho, referindo-se aos seus críticos ou opositores, os tratou de «uns mosquitos».
O chocante é que, segundo todas as fontes, o senhor presidente disse «não leio o que escreve». Ora, se não lê o que o seu opositor escreve, não tem o direito de se referir «ao que ele escreve» e mito menos de o tratar, com base no que ele escreve, de «energúmeno» e «abaixo de um porteiro» (Lê ele o que todos os porteiros escrevem?). Eu ter-lhe-ia respondido: «Se não me lê, não se refira ao que eu escrevo e, isso sim, é que seria um indício de boa sanidade mental».
De facto é comum neste país - onde a iliteracia e a ignorância atingem os cúmulos de toda a Europa do Oeste e do Leste e só têm comparação com África - qualquer pessoa dizer «não leio esse autor mas não estou de acordo com ele». E com isso passa essa pessoa, ignorante, labrega e preguiçosa, como tendo «opinião» sobre a escrita dos outros. As «campanhas públicas pela leitura» deviam começar por escolher como público-alvo estes autarcas e políticos provincianos.
Se o sr. dr Gonçalves Sapinho não lê o que o Professor escreve eu explico (como ele não me lerá, sugiro que os seus secretários lhe transmitam): António Delgado é um cartonista genial. Constrói montagens gráficas (uma espécie de caricaturas) com as fotografias dos eleitos que ele apanha em flagrantes suspeitas de interesses dúbios, gestão danosa, erros urbanísticos, lapsus linguae, faltas de rigor político, etc., cartons esses de fazer rir a bom e salutar rir. A acompanhar essas montagens, escreve textos correctíssimos, irrepreensíveis, sobre a gestão camarária e os problemas sociais do Concelho. Neste Jornal de Leiria, sob a rubrica «Opinião», escreve textos de Ciência Política que merecem ser citados nas cátedras da especialidade. Eu suspeito que o senhor dr. Gonçalves Sapinho não tenha tempo de ler «durante o expediente». Mas podia aproveitar as viagens que faz aos ministérios de Lisboa para pôr as leituras em dia, em vez de ... «dormir» como disse um dia que fazia. Ficava assim, com toda a sua sanidade mental, a saber o que escrevem os «mosquitos».
Moisés Espírito Santo
Professor Catedrático de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa (interessado pelo património etnológico da Região do Oeste).
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